COMO NASCEU O GRAPHOS III PARA O MSX
Por: Renato Degiovani
Quem usou (e abusou) do MSX e viveu a segunda era de ouro dos
microcomputadores de 8 bits, lá pelo final dos anos 80, com
quase toda certeza conheceu um pequeno programa para edição
gráfica,chamado Graphos III.
Na época, muito se disse sobre este programa. Pensando nisso,
e para "matar" um pouco a saudade, resolvi contar como tudo
aconteceu.
Em 84 eu estava terminando um editor gráfico para o TRS 80,
(na época do CP 500) e não tinha um nome para ele. Por
indicação do Manoel Neves, da JVA (uma softhouse muito
conhecida na época), o nome Graphos foi o escolhido para o
programa. O III foi decorrente do fato de se tratar de um
software para os micros compatíveis com o TRS 80 modelo III.
Isso era muito comum naqueles tempos.
O programa foi bem recebido pelo pessoal técnico e agradou
muito. Mas, precisava de um manual extenso, pois não se usava
edição gráfica nos micros com baixa resolução. A minha idéia
era publicar o programa na revista Micro Sistemas, mas por uma
questão de desentendimento com a editora, prevaleceu a idéia
de comercializá-lo através da JVA.
Tela inicial do Graphos III do MSX
O tempo passou, o manual do programa nunca foi escrito e o
TRS 80 saiu de linha, dando lugar aos microcomputadores
coloridos e com alta resolução gráfica.
No final de 85 eu estava desenvolvendo o sistema que iria dar
suporte ao Adventure Angra-I, mas não tinha um bom editor
gráfico para criar as imagens.
Durante três meses trabalhei exclusivamente no desenvolvimento
do Graphos, reutilizando a maior parte das rotinas do antigo
Graphos, para TRS 80, um vez que ele tinha sido totalmente
escrito em Assembler Z80.
O trabalho de conversão não foi difícil e quando o Graphos
ficou pronto levei uma cópia para testes na JVA. Alguns
acertos foram feitos e mais alguns recursos foram adicionados.
O programa estava na forma como ficou conhecido. Apenas a
rotina de impressão não funcionava corretamente nas
impressoras padrão Epson, pois ela havia sido desenvolvida
para uma impressora especial, que tinha sido modificada
bastante.
Em 87, quando retornei à Micro Sistemas, pretendia publicar
integralmente os fontes do Graphos III, como havia planejado
fazer com a primeira versão do programa.
Infelizmente aquela cópia de testes, que ficou na JVA e por um
descuido de um funcionário, acabou indo parar no circuito
pirata.
Menu principal do Graphos III
Diante da constatação de que pessoas inescrupulosas estavam
ganhando dinheiro com meu programa e que, até mesmo, estavam
alterando meu nome, nos créditos, resolvi então comercializar
a versão completa do editor, corrigindo o driver de
impressora.Essa comercialização foi feita diretamente pela MS.
Daí para frente, a maioria dos usuários de MSX sabe o que
aconteceu. Alguns meses depois, lancei o Graphos PRO e o
projeto Pro Kit, que acabou se transformando numa coisa maior.
Nos anos 90, quando o PC passou a ser vedete das máquinas
pessoais, resolví realizar então o velho projeto de publicar
os fontes do Graphos III. O programa foi convertido para o
Assembler do PC e publicado na Micro Sistemas em 10 edições.
Foi uma das coisas que mais me deu alegria. As pessoas
aprendiam programação durante a construção do programa.
Alguns usuários de MSX cobraram-me na época esta
"diferenciação" em relação aos microcomputadores. Lamentei
muito não ter podido publicar a versão do Graphos III para MSX
e tenho certeza que muito teria valido para os amantes da
programação Assembler. Mas credito esta falha exclusivamente a
atuação da pirataria desenfreada, que na época acontecia sem
maiores entraves.
Se alguma coisa pode ser dita, como conclusão a este episódio,
é de que realmente a pirataria mais prejudicou do que ajudou
o MSX. Se o usuário olhar apenas e tão somente para o seu
bolso, então nada mais pode ser dito.
Da minha parte, posso afirmar que mais não fiz, ou que deixei
de desenvolver outros programas (como o próprio Angra-I e o
Desk 3,ambos para MSX), simplesmente porque a pirataria e o
desrespeito ao trabalho dos autores nacionais foi muito grande
e decisivo.
Mas, essas são as regras do mercado e a elas temos que nos
submeter. Não guardo rancor ou mágoa do que aconteceu em
relação ao meu trabalho voltado para o MSX.
Escreví este texto apenas para deixar registrado uma parte da
história do MSX no Brasil da qual, com a colaboração de outras
pessoas, participei ativamente.
PS: a sua versão do Graphos III, para MSX, era original
ou pirata?
RENATO DEGIOVANI foi Diretor Técnico e Editor Geral da revista
Micro Sistemas por mais de 10 anos. Renato cuida também
TILT Online, É uma revista sobre informática onde você, com
certeza, irá encontrar o mesmo "clima" daqueles bons tempos.
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