A História do MSX na Internet |
Por: Ricardo Jurczyk Pinheiro INTRODUÇÃO Tem gente hoje em dia que a história do MSX no mundo se divide em antes e depois da Internet. Eu já não sou tão exagerado assim, mas fico feliz em ver que nos últimos anos minha participação foi expressiva. Atrevo-me a dizer que foi através de mim que tudo começou. Sem falsa modéstia nem exageros. Mas, de qualquer forma, o que me deixa mais satisfeito é saber que consegui fazer diferença, não ser mais um que só resmunga, mas o que fez alguma coisa. Mas vamos a história. O INÍCIO - MAIO DE 1986, OPS, AGOSTO DE 1993 Tudo começou em 1986, quando, então com 12 anos ganhei meu primeiro computador, um MSX 1.0. Eu já tinha visto um funcionando na casa de um amigo do meu pai, e achei o maior barato. (Nota do Autor: Hmm... Isso não interessa muito. Vamos pular 7 anos) Ganhei meu acesso a Internet em Agosto de 1993. Eu estava então no sexto período do bacharelado em matemática na UFRJ, aqui no Rio de Janeiro, e comecei a imaginar o potencial dessa rede, e ao que eu tinha acesso. Como bom MSXzeiro que sou, o meu primeiro mail em português para uma lista de discussão (enecomp-l) indicava que eu estava procurando MSXzeiros para trocar idéias, experiências, programas, etc. Tive algumas respostas (para ser exato, uma ou duas, não lembro), mas fiquei triste, pois os que me responderam não estavam lá muito interessados em trocar 'figurinhas'. Depois de um tempo, recebi um mail do Chile. Estranhei muito: "Ora, não conheço ninguém no Chile! Para ser exato, não conheço ninguém em lugar nenhum!". O mail era de um sujeito chamado Max Celedon Collins, um grande amigo interneteiro com que mantenho contato até os dias de hoje. Ele tinha lido o meu mail na lista de discussão e queria conversar sobre MSX. Como espanhol não é nada fácil de entender, combinamos bater papo em inglês. Ele me contou que eles no Chile usam MSX 2 fabricados pela Talent (Argentina) e que liderava um grupo de usuários, a COMPAC Corp. (nada a ver com a COMPAQ - fabricante de PCs). Ele queria entrar em contato com os MSXzeiros brasileiros, trocar idéias, programas, etc. Eles conheciam o Graphos III (quem é antigo lembra-se dele), o MSX Page Maker, etc. Usavam Turbo Pascal e Assembly, tinham livros e revistas que vinham da Argentina, mas em suma a situação MSXzeira chilena era (e ainda é) pior do que a nossa. Começamos a trocar programas (peguei até uma foto digitalizada da namorada dele!) e informações. Comecei a fazer uma listinha com o nome dos MSXzeiros que eu encontrava por aí, justamente por não ter algo que centralizasse todos (tipo uma lista de discussão, por exemplo). Incluí os amigos deles (mais uns três caras), e alguns brasileiros que ocasionalmente apareciam e mandavam um mail, afora alguns conhecidos. Fui anotando e a lista foi crescendo... Fiz uma versão da lista que era um convite aos MSXzeiros fazerem parte da minha listinha e conversarem conosco, trocando idéias. Através do Max consegui o e-mail de dois usuários no Japão, sendo um deles brasileiro. Mandei mensagens aos dois, e só o brasileiro respondeu. Ele disse que falar sobre MSX naquela altura do campeonato era piada. Ele não via nada sobre MSX no Japão há anos, e que eu estava perdendo o meu tempo. Mesmo assim, insisti e ele me passou o e-mail de um cara (Akira Matsumoto, se não me engano). Só que ele não entrou em contato comigo. Teve mais um, que era da Sony, e trocamos algumas idéias. O INÍCIO DA REVOLUÇÃO - FIM DE 1993 Foi no final de 1993 que eu comecei a usar o IRC - Internet Relay Chat - e usava um nickname (apelido) que causava algumas reações ao pessoal: "MSXzeiro". Alguns disseram: "Puxa, eu já tive um MSX! Você tem?". A maioria era indiferente. Um dia, decidi jogar com a sorte e pulei para o canal #MSX. Eu pensava: "Ah, não deve existir o canal, logo só deve ter eu dentro..." Mas qual não foi a minha surpresa quando vi que haviam três caras presentes no canal. Dei um pulo da cadeira e um grito de felicidade. Isso, dentro de um laboratório da universidade... Imagina a minh a vergonha depois, ainda mais porque o IRC não era para ser usado durante o horário de trabalho! Desses três, só um falava (o MetalGear). O nome real dele é Alexandre Rajsjalt, editor-chefe da Forum MSX Magazine, na Bélgica. Infelizmente ele não tinha e-mail (usava o de um amigo), mas a gente bateu alguns papos, sobre Metal Gear I e II, e trocamos alguma s idéias. Mandei meu endereço postal para ele, e em janeiro de 1994 recebi uma carta da Bélgica, com um número da Forum MSX Magazine (em francês e com um disquete em anexo) e uma carta bem-humorada. Lógico, guardo a revista até hoje, embora não saiba uma frase em francês! Mandei uma mensagem para uma lista de discussão sobre CP/M, e um rapaz do Rio Grande do Sul me respondeu, inclusive sugerindo-me a assinar essa lista. Essa era uma lista internacional, e eu pensei:"Hum, o MSX tem muita coisa de CP/M, como o Turbo Pascal, etc. Vou assinar, pode ser que eu ache algum MSXzeiro.". Assinei, e no meio de janeiro de 1994 surgiu um mail de um cara na Holanda - Wiebe Weikamp - procurando MSXzeiros que assinassem essa lista. Respondi a ele, e começamos a conversar. Mandei uma cópia da minha listinha para ele, e depois recebi mais dois mails, do Roderik Muit e do Stefan Boer. Ah, o Wiebe Weikamp é sysop da Hack-Track BBS (funciona 24 hs em cima de um MSX) e criador da MSXEchoMail e da MSX-Net, duas redes de mensagens que funcionam via BBSes. O detalhe é que funcionam em cima de BBS baseados em MSX. O Roderik Muit é o sysop do BBS da MSX Club Gouda, e membro da FCS, um grupo de usuários holandês. O Stefan Boer é o diretor-executivo da Sunrise Foundation, uma empresa dedicada ao MSX, que realiza entre outras coisas encontros, festas, feiras, vende software, edita revistas, etc. E a MSX-revolução começou. A minha lista voltou com mais do queo dobro do tamanho. Havia uma penca de usuários holandeses adicionada. E o pessoal queria conversar com usuários no Brasil, saber o que tinha de MSX aqui com a gente. Para eles o MSX no Brasil era um sistema nulo, o que nós sabemos que não. E a lista foi crescendo... A PROFISSIONALIZAÇÃO DO UNIVERSO MSX Voltei às aulas em março de 1994 (sétimo período) todo animado. Agora precisavamos dar uma certa estrutura ao universo MSX dentro da Internet. Mandei uma cópia para o Lauro Faria, sysop do BDI BBS, coordenador da área Rio da FidoNet e autor do MSX Guide (um boletim anual contendo muita informação sobre MSX - que não é mais editado), e ele me mandou um mail com várias sugestões para tornar a lista mais fácil de ler, com mais dados e mais profissional, a saber: * Colocar, além do nome e e-mail, qual a versão do MSX. * Separar por países. * Adicionar endereços de sites FTP, WWW, etc. * Colocar dados sobre CP/M também. * Reservar espaço para o nome do grupo de usuários a que faz parte. * Adicionar uma história da lista. * Colocar o total de inscritos. * E outras coisas... Aceitei as dicas e mexi na lista. Deu muito trabalho, mas ela ganhou o formato atual. O Lauro ofereceu-se para colocar um reply automático no seu BBS. Funcionava assim: você enviava um mail para msxlist@bdi.ax.apc.org (não adianta fazer isso hoje, este e-mail não existe mais) e depois de um tempo você recebia uma mensagem, contendo a lista. Tentamos enviar a lista pela FidoNet, mas acho que não teve muitos frutos, afinal eu não tinha modem na época. Como a gente não tinha uma lista de discussão, então as novidades eu mesmo acrescentava no fim da minha lista. Todo mundo pegava uma cópia, logo era o melhor meio de divulgar informação. E foi assim até o final de maio de 1994. Aquele mês foi histórico para nós... Havia um finlandês (Markus Valtokari) que queria abrir um 'mirror' da área de CP/M do SimTel em uma máquina na Finlândia. Só que ele queria abrir um diretório de MSX também. Isso para a gente era muito importante, já que não tínhamos onde depositar software para que os outros pudessem pegar e usar. Ele entrou em contato conosco, e nós (eu e alguns caras da Holanda) demos o maior apoio. Então, no meio de maio de 94, foi aberto o primeiro de muitas outras áreas disponíveis para os MSXzeiros na Internet: ftp://nic.funet.fi/pub/MSX/. O moderador era o Markus e fui o primeiro cara no mundo a fazer uploads para lá (taí um motivo de orgulho!). Ele criou alguns diretórios (seguindo a orientação do pessoal) e foi colocando os arquivos onde a gente indicava.Foi um bom serviço o dele... Mas só durou alguns meses. Acontece que ele não tinha tempo quase nenhum para gerenciar o diretório de CP/M, quanto mais dar atenção para o de MSX! A coisa depois de um tempo ficou largada, só de um tempo para cá o Roderik Muit (rmuit@ripe.net) assumiu o lugar do Markus e tem reorganizado a bagunça generalizada em que se encontrava o nosso primeiro FTP site. No fim do mês, recebi uma mensagem do Wiebe (wiebe@stack.urc.tue.nl). Li e quase não acreditei! Era uma solicitação para eu me cadastrar numa lista de discussão (majordomo@stack.urc.tue.nl) sobre MSX! Eu quase caí duro, isso era tudo que nos procuravamos há tempos. Cadastrei-me correndo na lista e a minha primeira mensagem foi felicitando aos já cadastrados, por fazerem parte daquele que foi mais um grande passo para o universo MSX. E nessa lista o pessoal discutiu nos últimos dois anos desde os assuntos mais prosaicos, como instalar um segundo disk-drive num micro fabricado pela Philips, até as loucuras mais inimáginaveis, como processamento paralelo usando 4 ou até 8 MSX 1 (afinal, lá o MSX 1 é obsoleto há quase 10 anos). Trocamos muitas idéias, formando um canal de comunicação Brasil-Holanda, o que veio a influenciar os BBS. O Fernando Carneiro, autor do MSX-OFFLINE, criou um gerenciador de BBS (que gerencia o FireHawk BBS) que funciona sobre um MSX 2 com dois drives, mapper e Megaram Disk (Eu já vi o FH funcionando) Pois então, o Fernando fez uma conexão experimental durante um tempo com o Hack-Track BBS, fazendo troca de pacotes internacionalmente. Só que o modem do Fernando era (e ainda é) um famoso TM-2 da Gradiente, com 300 bps ou 1200/75 bps. Logo, no máximo 1200 bps para trocar os pacotes... E pensar que lá é relativamente fácil encontrar MSXs ligados a modems externos via interfaces seriais. Mas se você entrar hoje na FireHawk BBS, verá que há uma conferência chamada 'MSX NET'. As novidades das feiras de Tilburg, Zandvoort (fora os encontros em Paris, Barcelona, Tóquio, na Alemanha, Inglaterra, etc.) e anúncios de software e hardware, todos eles passaram pela lista internacional. Exemplos? Moonsound, Gfx9000, V9990, interfaces SCSI, Pumpkin Adventure 2 e 3, Sunrise Magazine, demos, etc. Sempre tinha um altruísta que pensava em nos, MSXzeiros de fora da Europa e escrevia um texto (em inglês) para contar as novidades ao pessoal da lista. Com o tempo, entraram vários japoneses e coreanos na lista. Descobrimos que na Coréia do Sul o MSX ainda é um sucesso de público, e no Japão a coisa não estava tão feia assim como falou-me aquele brasileiro (que era muçulmano e apoiava o Iraque na Guerra do Golfo!), que trabalhava na ASCII Corp. (para quem não sabe, os criadores do MS X junto com a Microsoft americana). Os japoneses trataram de sondar a Panasonic, a ASCII e outras empresas para saber por que o Turbo-R foi descontinuado, e se havia outro projeto a ser desenvolvido. Infelizmente, a linha de montagem do MSX Turbo-R estava sendo usada para fabricar o videogame 3DO. Diziam que quando a Panasonic japonesa transferisse a fabricação para outra unidade, eles voltariam a produzir o Turbo-R. Mas até agora, nada. Não ha projetos na Sony para um MSX 3 (ou 4, como queiram) e pelo visto, nada que possamos fazer. Quanto a eles, bem entendido. Mas o MSXzeiro brasileiro que já enfrentou o descaso de Gradiente e Sharp, aguenta qualquer notícia ruim. E a lista? Já tinha muita gente dentro. Tudo bem feitinho, dividido por países, etc. Um fato a ser notado era a entrada do pessoal das ex-repúblicas soviéticas na lista (Rússia e Estônia, principalmente). Muitos ainda tem no seu e-mail a extensão .su, de União Soviética. Lembro-me de um artigo na MSX Micro (no. 7, se não me engano, estou com preguiça de ir catar a revista) que contava que a Yamaha vendeu milhares de MSX para a União Soviética informatizar as suas escolas. Daí saiu uma nova geração de micreiros, que conheceram o MSX nas escolas, em salas de aula. Criaram alguns softs (o editor de texto que estou usando para escrever essas linhas - o XTor - é fruto de Leonid Baraz, russo que hoje trabalha na Intel) e estão sempre a procura de novidades. O nosso segundo FTP site surgiu na ex-União Sovietica. Um usuário (Oleg Titov) colocou o próprio micro doméstico funcionando em uma linha telefônica direta 24 hs por dia (a linha era por conta do governo), instalou Unix, configurou e criou um FTP site. Nesse voce^ tem a liberdade de criar diretorios e assessar via FSP tambem. Funciona tão bem que um colecionador de jogos (Hans Guilt) colocou nesse site (ftp://riaph.irkutsk.su) toda a sua coleção de jogos compactados (são mais de 4 Mb!), com vários daqueles joguinhos que fizeram a nossa alegria: Knightmare, Elevator Action, Lode Runner, a saga Zanac, Cabbage Patch Kids, etc. Sem contar algumas raridades, como o De Grotten Van Oberon (um jogo alemão onde você pilota um disco voador dentro de cavernas) e outros que eu nunca vi. OS EMULADORES Nesse meio tempo (final de 1994) surgiu o primeiro emulador de MSX para PC. Era originário da Holanda e emulava um MSX 1, era recheado de bugs e defeitos. Basta dizer que todos os aplicativos e jogos que rodavam nesse emulador ficavam insuportavelmente lentos. O Elite ficava tão lento que a gente saía para beber água e quando voltava, ainda faltava terminar a animação... Isso no emulador de MSX 1. Mas alguém já disse que a necessidade é mãe da invenção e irmã do improviso: Um russo que está estudando nos EUA Marat Fayzullin) começou a fazer, em C, um emulador para MSX 1. Esse era o free MSX, ou o fMSX, como é mais conhecido. O mais interessante é que ele foi feito para ser totalmente freeware (ao contrário do primeiro que era vendido), é o mais completo de todos e o mais portável. Há versões do fMSX para MS-DOS, Windows, Linux, Mac/OS, Amiga DOS, Sun Solaris, OSF/1, BSD, etc. algumas rotinas foram desenvolvidas por usuários holandeses e japoneses Essa é usando a máxima da Internet: "Várias pessoas conectadas, ajudando umas às outras, criando uma comunidade eletrônica e relembrando aquele antigo sentimento há muito esquecido na sociedade moderna: solidariedade.". Hoje o fMSX está na versao 1.5, e emula um MSX 2+ com acerto muito bom. Não é perfeito, mas está melhorando... Segundo minhas fontes, mesmo emulando em um Pentium 120 , ele perde em velocidade para o bom e velho MSX 2+. Não tenho nada contra os emuladores. Pelo contrário, acho eles úteis para estudar a arquitetura da máquina e para fazer testes. Mas infelizmente a lista internacional foi acometida por uma "síndrome do emulador". Falava-se mais no emulador do que no próprio MSX! Droga... Cansei de mandar mails reclamando por isso, e hoje em dia isso melhorou muito. De vez em quando surge alguem perguntando como gerar ROM-files para o fMSX, e o Marat calmamente explica. Mas o MSX voltou à crista da onda. Mais recentemente aquela dupla de usuários holandeses que fizeram aquele primeiro emulador lançaram uma nova versão do seu emulador, desta vez emulando o MSX 2. Mas já era tarde, o fMSX havia dominado o mercado. O RECONHECIMENTO Logo que comecei a fazer a lista, não era a minha intenção espalhá-la pelos quatro cantos da terra. A minha intenção era apenas fazer um arquivo para eu consultar de vez em quando. Mas não imaginei como o alcance foi grande! Gente, nunca sai do Brasil mas sou conhecido nos meios MSXzeiros europeus e de vez em quando recebo um mail dando parabéns! Isso me deixa muito feliz. A lista foi publicada (na integra) em algumas revistas de MSX no exterior, como a ChipChat (inglesa) e a MCCM (holandesa), inclusive com o meu nome. Mas aqui no Brasil tive um reconhecimento quase imerecido. Vou contar-lhes a história. Se você já leu o Caderno de Informatica do jornal ' O Globo', deve ter lido a coluna do CAT - Carlos Alberto Teixeira, um dos grandes gurus do pessoal aqui do Rio. Seus artigos são excelentes, com muitas dicas e uma linguagem leve e divertidíssima. Pois então, tomei coragem e mandei um mail para ele falando da lista que eu tinha feito, e conversando um pouco. Ele foi muito simpático, mas me disse que seria difícil falar da lista na coluna dele, mas veria o que poderia fazer. E qual não foi a minha surpresa quando numa segunda-feira de junho de 1994 eu abri o jornal e li na coluna do CAT um pequeno texto falando sobre mim, a lista e tudo que já tinhamos feito em prol do MSX até aquele dia. Nossa, fiquei famoso! Meu pai, então, todo orgulhoso, recortou e colou o artigo perto da sua mesa de trabalho, para que todos pudessem ver o que o filho fazia! E muitos me deram parabéns, e tive os meus quinze minutos de fama. Agradeci ao CAT, e ele disse que se precisasse de mais alguma coisa, era só chamar. São pessoas assim que fazem a gente acreditar no ser humano. O NEWSGROUPS E A WWW Foi tentada uma conexão entre a MSX Net e a lista de discussão, feita pelo Pierre Gielen, via o seu BBS, mas sem sucesso. Foi nessa época que o pessoal começou a discutir sobre abrir um newsgroup na Usenet. Certo, alguém já tinha aberto um newsgroup alternativo, o alt.sys.msx. Como é alternativo, é lido por todos os News Servers do mundo. Nos queríamos um grupo oficial. Só que a burocracia era muita (quem disse que a Internet era desorganizada?) e dava muito trabalho: Era preciso um RFD (Request For Discussion - Um convite a discussão, para ver se abrir o newsgroup é válido), depois, se aprovado, é feito um CFV (Calling For Vote - Chamada a Votação), onde criam-se e-mails especiais para as pessoas votarem. A contagem é automatica, e para abrir o grupo é necessario mais de 100 votos a favor, e mais de 2/3 do total ser 'SIM'. Afinal, mediante essa trabalheira toda, o Eric Boon voluntariou-se a fazer essa tarefa hérculea, batalhou e graças ao esforço dele, na votação tivemos 152 votos à favor, algumas abstenções e menos de 20 contra. Preenchemos todos os pré-requisitos e fomos aprovados. Aguardamos um tempo, e em julho de 1995, o nosso newsgroup oficial já estava disponível. Infelizmente tambem passou uma época acometido da síndrome do emulador. E como não poderia deixar de ser, a WWW. A primeira homepage especifica sobre MSX surgiu pelas mãos de Wiebe Weikamp (fantástica), e com um background bem-humorado (uma copia do adesivo da Intel - Intel inside - só trocando palavras - para "Zilog inside"). De lá para cá, surgiram várias homepages, só com assunto técnico, homepages de grupos de usuarios (FONY, ABYSS, etc.), homepages com muita informação, etc. A primeira homepage nacional foi criada pelo Aleck Zander em 1995 (MSX BRoadcast). Existem muitas homepages específicas para o MSX hoje em dia. A LISTA BRASILEIRA No inicio de 1995, resolvi que era necessário abrir uma lista de discussão brasileira, para que nós, MSXzeiros brasileiros pudessemos falar sobre o que nos interessava especificamente. Portanto, em janeiro de 1995, criei na Esquina das Listas (na Unicamp) a MSXBR-L, uma lista de discussão para o MSX no Brasil. Foi através da lista que passei a conhecer gente boa, como o André Delavy, poder falar mais com gente como o Aleck Zander, e trocar mil idéias. No final de 1995, com as costumeiras quedas do servidor da Esquina, o Aleck sugeriu-me que montassemos uma lista em um outro servidor. "Mas a Esquina é um servidor democrático. Tem até lista de discussão sobre o Criciúma e quatro listas de teste! Onde alguém vai aceitar a nossa lista?" - argumentei. Ele então começou a mexer os pauzinhos e falar com seus contatos na UNESP para colocar a nossa lista em um listserv que seria instalado no laboratório onde ele trabalha. Infelizmente perdi a minha conta, a já quase imortalizada (se não fosse o meu antigo gerente) "pinheiro@labma.ufrj.br". Recebi solicitações de cópias da lista até da Eslováquia! Isso mostra como a lista se alastrou e eu fiquei conhecido. Mal tive tempo de me despedir e descadastrar-me das mais de 15 listas que assinava (só na esquina, eram mais de 10), e perdi meu e-mail. Depois que foi feita a troca do sistema RENPAC na UFRJ, se livrando do velho VAX e colocando uma RISC/6000 da IBM no lugar, conversei com um amigo (ex-MSXzeiro) e ele me cedeu o uso da conta, a saber: malheiro@acd.ufrj.br. Portanto, apenas eu lia mail nesse endereco. Funciona como se fosse meu, só que as mensagens iam em nome de 'Rogerio Malheiros dos Santos'. Quando voltei para o universo interneteiro, descobri que o Aleck finalmente botou o listserv para funcionar e me passou o novo endereco, num servidor 'de gente': listserv@dcce.ibilce.unesp.br. E estamos agora na lista. O pessoal agora tem feito um barulho muito bom, discutido bastante e tido muitas idéias. Isso é o que eu procuro desde que comecei a acessar a Internet: usuários agindo em conjunto, fazendo um 'brainstorming' e propondo-se a desenvolver software junto. Só isso já faz o meu esforço valer a pena. Claro, temos o contato com o pessoal do exterior (e sugiro que usemos desse contato), mas fazer um trabalho com holandeses, japoneses e finlandeses em conjunto fica bem complicado, não? O FIM... OU O INÍCIO? Olhando para trás, e vendo o que conseguimos, me deixa muito feliz. Hoje em dia temos 6 (ou 7?) FTP sites, 3 listas de discussão (tem a lista japonesa também), 2 newsgroups, dezenas de homepages, e tudo isso começou com aquele bate-papo com o Max, há quase três anos atrás. Mas o melhor de tudo é que isso ajudou a formar nos MSXzeiros uma consciência de "arregaçar as mangas e fazer, não ficar esperando pelos outros fazerem". Se não fosse isso, não teriamos nada disso feito. Falando em termos de Brasil, ainda precisamos fazer muito: Um canal fixo no IRC (eu sugiro o irc.kanopus.com.br), um FTP site só nosso, etc. Mas só em ver o interesse do pessoal em fazer coisas novas, como a conversão do Unix (Minix - quem sabe podemos depois partir para o Linux?), MSXs novos (baseados no Z380), um 'trumpet' TCP/IP, software para mandar para Tilburg, etc. já me deixa muito feliz. Valeu a pena. E tem valido. E que o mercado de 16 e 32 bits tome cuidado! O MSX está aí, renascendo das cinzas, qual Fenix, em novos formatos, novas versões, mais usuários, mais gente. Tem sido muito bom chegar os 10 anos de MSX escrevendo esse texto e vendo que o sonho não acabou. T++ galera! MSX NOW! Ricardo Jurczyk Pinheiro The MSX Big Rider |