A História do MSX na Internet

Por: Ricardo Jurczyk Pinheiro
 

INTRODUÇÃO



  Tem gente hoje em dia que a história do MSX  no mundo se divide em antes e
depois da Internet. Eu já não sou tão exagerado assim, mas fico feliz em ver 
que nos  últimos anos minha  participação foi expressiva. Atrevo-me  a dizer
que foi através de  mim que tudo começou. Sem  falsa modéstia  nem exageros.
Mas, de qualquer forma, o que me deixa mais satisfeito é saber que  consegui
fazer  diferença, não  ser  mais um que só  resmunga, mas o  que fez  alguma 
coisa. Mas vamos a história.


O INÍCIO - MAIO DE 1986, OPS, AGOSTO DE 1993

  Tudo começou  em 1986,  quando,  então  com 12  anos  ganhei  meu primeiro
computador, um MSX 1.0. Eu já tinha visto um funcionando na casa de um amigo
do meu pai, e achei o maior barato.

(Nota do Autor: Hmm... Isso não interessa muito. Vamos pular 7 anos)

Ganhei meu  acesso a  Internet em  Agosto de 1993. Eu  estava então no sexto
período  do  bacharelado  em matemática  na UFRJ, aqui  no Rio de Janeiro, e
comecei a imaginar o potencial dessa  rede, e ao  que eu  tinha acesso. Como
bom MSXzeiro que  sou, o meu primeiro  mail em português  para uma lista  de
discussão  (enecomp-l)  indicava  que  eu estava  procurando  MSXzeiros para
trocar  idéias,  experiências,  programas, etc. Tive algumas respostas (para 
ser  exato, uma ou  duas, não  lembro), mas  fiquei  triste, pois  os que me
responderam não estavam lá muito interessados em trocar 'figurinhas'.
  Depois de um tempo, recebi  um mail do  Chile. Estranhei  muito: "Ora, não
conheço  ninguém  no  Chile! Para ser exato, não  conheço  ninguém  em lugar
nenhum!". O mail  era de um sujeito  chamado Max  Celedon Collins, um grande
amigo interneteiro com que  mantenho contato até os  dias de hoje. Ele tinha
lido o meu  mail na lista de  discussão e queria conversar  sobre  MSX. Como
espanhol não é nada fácil de entender, combinamos bater papo  em inglês. Ele
me contou que eles no Chile usam MSX 2  fabricados pela Talent (Argentina) e
que liderava um grupo de usuários, a COMPAC Corp. (nada a ver com a COMPAQ -
fabricante  de  PCs). Ele   queria  entrar   em  contato  com  os  MSXzeiros 
brasileiros,  trocar  idéias, programas, etc. Eles  conheciam  o Graphos III
(quem é antigo lembra-se dele), o MSX Page Maker, etc. Usavam Turbo Pascal e 
Assembly, tinham livros e revistas  que vinham da  Argentina, mas em  suma a
situação MSXzeira chilena era (e ainda é) pior do que a nossa.
  Começamos a trocar programas (peguei até uma foto digitalizada da namorada 
dele!) e informações. Comecei a fazer uma listinha com o nome dos  MSXzeiros 
que eu encontrava  por aí, justamente  por  não  ter algo  que centralizasse
todos (tipo uma lista de  discussão, por exemplo). Incluí  os  amigos  deles
(mais uns três caras), e alguns brasileiros  que ocasionalmente  apareciam e
mandavam  um  mail, afora  alguns  conhecidos. Fui  anotando e  a  lista foi
crescendo... Fiz  uma  versão  da lista  que  era  um convite  aos MSXzeiros
fazerem parte da minha listinha e conversarem conosco, trocando idéias.
  Através do Max consegui o e-mail de dois usuários no Japão, sendo um deles 
brasileiro. Mandei  mensagens  aos  dois, e  só  o brasileiro respondeu. Ele
disse que falar sobre MSX naquela altura do  campeonato  era piada. Ele  não 
via nada sobre MSX no Japão há anos, e  que eu estava perdendo o  meu tempo.
Mesmo assim, insisti e ele me passou  o e-mail de um  cara (Akira Matsumoto,
se não me engano). Só que  ele não  entrou em contato  comigo. Teve mais um,
que era da Sony, e trocamos algumas idéias.

						
O INÍCIO DA REVOLUÇÃO - FIM DE 1993

  Foi no final de 1993 que eu comecei a usar o IRC - Internet Relay Chat - e
usava   um  nickname  (apelido)  que  causava  algumas  reações ao  pessoal:
"MSXzeiro".
Alguns  disseram: "Puxa, eu  já  tive  um  MSX!  Você  tem?". A maioria  era
indiferente. Um  dia, decidi  jogar com  a sorte e  pulei para o canal #MSX.
Eu pensava: "Ah, não deve existir o  canal, logo só deve  ter eu  dentro..."
Mas
qual não foi a minha surpresa quando  vi que haviam  três caras presentes no
canal. Dei um pulo da cadeira e um grito  de felicidade. Isso, dentro  de um 
laboratório da universidade... Imagina a minh a vergonha depois, ainda  mais
porque o IRC não era para ser usado durante o horário de trabalho! 
Desses três, só  um  falava (o  MetalGear). O  nome  real dele  é  Alexandre
Rajsjalt, editor-chefe da Forum MSX  Magazine, na Bélgica. Infelizmente  ele
não tinha e-mail  (usava o  de um  amigo), mas  a gente  bateu alguns papos, 
sobre  Metal  Gear I e II, e  trocamos alguma s idéias. Mandei meu  endereço 
postal para ele, e em janeiro de 1994  recebi  uma carta  da Bélgica, com um
número da Forum MSX Magazine  (em  francês e  com um  disquete  em  anexo) e 
uma carta  bem-humorada. Lógico, guardo a revista até hoje, embora não saiba
uma frase em francês!
  Mandei uma mensagem para uma lista de discussão sobre CP/M, e  um rapaz do
Rio Grande do Sul me respondeu, inclusive sugerindo-me a assinar essa lista.
Essa era uma lista internacional, e eu pensei:"Hum, o MSX tem muita coisa de
CP/M, como o  Turbo  Pascal, etc. Vou assinar, pode ser  que  eu  ache algum
MSXzeiro.". Assinei, e no meio de janeiro de 1994 surgiu um mail de  um cara
na Holanda - Wiebe Weikamp - procurando MSXzeiros que assinassem essa lista.
Respondi a ele, e começamos a conversar. Mandei uma cópia da  minha listinha
para ele, e depois recebi mais dois mails, do Roderik Muit e do Stefan Boer.
Ah, o Wiebe  Weikamp é sysop  da Hack-Track  BBS (funciona 24 hs em cima  de
um MSX) e criador da MSXEchoMail e  da  MSX-Net, duas redes de mensagens que
funcionam via BBSes. O  detalhe  é que  funcionam em cima de BBS baseados em
MSX. O Roderik Muit  é o  sysop  do  BBS da MSX Club Gouda, e membro da FCS,
um  grupo  de  usuários  holandês. O  Stefan Boer  é o  diretor-executivo da
Sunrise Foundation, uma empresa  dedicada ao MSX, que realiza  entre  outras
coisas encontros, festas, feiras, vende software, edita revistas, etc.
  E a MSX-revolução começou. A minha lista voltou  com mais do queo dobro do 
tamanho. Havia  uma  penca  de  usuários  holandeses adicionada. E o pessoal
queria conversar com usuários no Brasil, saber o que tinha de MSX aqui com a
gente. Para eles o MSX no Brasil era  um sistema nulo, o que nós sabemos que
não. E a lista foi crescendo...

A PROFISSIONALIZAÇÃO DO UNIVERSO MSX

  Voltei às aulas  em março  de 1994  (sétimo período)  todo  animado. Agora 
precisavamos dar  uma certa  estrutura ao  universo  MSX dentro da Internet.
Mandei uma cópia para o Lauro Faria, sysop do  BDI BBS, coordenador  da área
Rio da  FidoNet e  autor do  MSX  Guide (um  boletim  anual  contendo  muita
informação sobre MSX - que não é mais editado), e ele me mandou um  mail com
várias sugestões  para tornar a  lista mais  fácil de ler, com mais  dados e
mais profissional, a saber:

   * Colocar, além do nome e e-mail, qual a versão do MSX.
   * Separar por países.
   * Adicionar endereços de sites FTP, WWW, etc.
   * Colocar dados sobre CP/M também.
   * Reservar espaço para o nome do grupo de usuários a que faz parte.
   * Adicionar uma história da lista.
   * Colocar o total de inscritos.
   * E outras coisas...

  Aceitei  as dicas e  mexi na lista. Deu  muito trabalho,  mas ela ganhou o 
formato atual. O Lauro ofereceu-se para colocar um  reply automático  no seu
BBS. Funcionava assim: você enviava um mail para msxlist@bdi.ax.apc.org (não
adianta fazer isso hoje, este e-mail não  existe mais) e depois de  um tempo
você recebia uma mensagem, contendo  a lista. Tentamos  enviar a  lista pela 
FidoNet, mas acho que não teve muitos frutos, afinal  eu não tinha  modem na
época.
  Como a gente não tinha uma lista de discussão, então as novidades eu mesmo 
acrescentava no fim da minha lista. Todo mundo  pegava uma cópia, logo era o
melhor meio de divulgar informação. E foi assim até o final de maio de 1994.
Aquele mês foi histórico  para nós... Havia um  finlandês (Markus Valtokari)
que queria abrir  um 'mirror' da  área de CP/M  do SimTel em  uma máquina na
Finlândia. Só que ele queria  abrir um diretório de MSX também. Isso  para a
gente era muito importante, já que não tínhamos onde depositar software para
que os  outros pudessem pegar e usar. Ele entrou  em contato conosco, e  nós
(eu e alguns caras da Holanda) demos  o maior apoio. Então, no  meio de maio
de 94, foi aberto  o primeiro  de muitas  outras áreas  disponíveis  para os 
MSXzeiros na Internet: ftp://nic.funet.fi/pub/MSX/. O moderador era o Markus
e fui  o primeiro  cara no mundo a  fazer uploads para  lá (taí um motivo de 
orgulho!). Ele criou alguns diretórios (seguindo a  orientação do pessoal) e
foi colocando os arquivos onde a gente indicava.Foi um bom serviço o dele...
Mas só durou  alguns meses. Acontece  que ele  não tinha tempo  quase nenhum
para gerenciar o diretório de CP/M, quanto  mais dar  atenção para o de MSX!
A  coisa depois  de um tempo ficou largada, só de um tempo para cá o Roderik
Muit (rmuit@ripe.net) assumiu o lugar do Markus e tem reorganizado a bagunça
generalizada em que se encontrava o nosso primeiro FTP site.
  No fim do mês, recebi uma mensagem do Wiebe (wiebe@stack.urc.tue.nl). Li e 
quase não acreditei! Era uma solicitação para eu me cadastrar numa lista  de
discussão (majordomo@stack.urc.tue.nl) sobre  MSX! Eu  quase caí  duro, isso 
era tudo que nos procuravamos há tempos. Cadastrei-me correndo na lista  e a
minha  primeira  mensagem foi  felicitando  aos já  cadastrados, por fazerem
parte daquele que foi  mais um  grande  passo  para o  universo MSX. E nessa
lista  o  pessoal  discutiu nos  últimos  dois anos  desde os assuntos  mais
prosaicos, como  instalar  um  segundo disk-drive num  micro fabricado  pela 
Philips, até as  loucuras mais  inimáginaveis, como  processamento  paralelo
usando 4 ou até 8 MSX 1 (afinal, lá o MSX 1 é obsoleto há quase 10 anos).
  Trocamos muitas idéias, formando um canal de comunicação Brasil-Holanda, o
que veio a influenciar  os BBS. O  Fernando Carneiro, autor  do MSX-OFFLINE,
criou um gerenciador de BBS (que gerencia o FireHawk BBS) que funciona sobre
um MSX 2 com dois drives, mapper e Megaram Disk (Eu já vi o  FH funcionando)
Pois então, o Fernando fez uma conexão experimental  durante um tempo  com o
Hack-Track BBS, fazendo troca de pacotes internacionalmente. Só que  o modem
do  Fernando  era  (e ainda é) um famoso TM-2 da  Gradiente, com  300 bps ou
1200/75 bps. Logo, no máximo 1200 bps para trocar os pacotes... E pensar que
lá  é  relativamente  fácil  encontrar MSXs  ligados a  modems  externos via
interfaces seriais. Mas se você entrar hoje na FireHawk BBS, verá que há uma 
conferência chamada 'MSX NET'.
  As novidades das feiras de Tilburg, Zandvoort (fora os encontros em Paris, 
Barcelona, Tóquio, na Alemanha, Inglaterra, etc.)  e anúncios de  software e
hardware, todos eles passaram pela lista internacional. Exemplos? Moonsound,
Gfx9000, V9990, interfaces SCSI, Pumpkin Adventure 2 e 3, Sunrise  Magazine, 
demos, etc. Sempre tinha um altruísta que pensava em nos, MSXzeiros  de fora 
da  Europa  e  escrevia um  texto (em inglês)  para contar  as novidades  ao
pessoal da  lista. Com  o tempo,  entraram vários  japoneses  e coreanos  na
lista. Descobrimos que na Coréia do Sul o MSX ainda é um sucesso de público,
e no Japão a coisa não estava tão feia assim como falou-me aquele brasileiro
(que era muçulmano e apoiava o Iraque na  Guerra do Golfo!), que  trabalhava 
na ASCII  Corp. (para  quem  não sabe, os  criadores  do  MS X junto  com  a
Microsoft americana). Os japoneses trataram de sondar a Panasonic, a ASCII e 
outras empresas para saber por que o Turbo-R foi descontinuado, e  se  havia
outro projeto a ser desenvolvido. Infelizmente, a  linha de  montagem do MSX
Turbo-R estava sendo usada para fabricar o videogame 3DO. Diziam  que quando 
a Panasonic  japonesa  transferisse a  fabricação  para outra  unidade, eles
voltariam a produzir o Turbo-R. Mas até agora, nada. Não ha projetos na Sony 
para um MSX 3 (ou 4, como queiram) e  pelo visto, nada  que  possamos fazer. 
Quanto a eles, bem entendido.
  Mas o MSXzeiro brasileiro que já enfrentou o descaso de Gradiente e Sharp, 
aguenta qualquer notícia ruim. E a lista? Já tinha muita gente  dentro. Tudo
bem feitinho, dividido por países, etc. Um fato a ser  notado era  a entrada
do  pessoal  das  ex-repúblicas  soviéticas  na  lista  (Rússia  e  Estônia,
principalmente). Muitos ainda  tem no seu  e-mail a  extensão .su, de  União 
Soviética. Lembro-me  de um  artigo na MSX  Micro (no. 7, se não me  engano,
estou com preguiça de ir catar a revista)  que contava  que  a Yamaha vendeu 
milhares de MSX  para a  União Soviética  informatizar as  suas escolas. Daí
saiu uma nova geração de  micreiros, que  conheceram  o MSX  nas escolas, em
salas de aula. Criaram alguns softs (o editor de texto que estou usando para
escrever essas linhas - o XTor - é fruto  de Leonid  Baraz, russo  que  hoje 
trabalha na Intel) e estão sempre a  procura de novidades. O  nosso  segundo
FTP site  surgiu na  ex-União  Sovietica. Um  usuário (Oleg Titov) colocou o
próprio micro doméstico funcionando em uma linha telefônica direta 24 hs por
dia (a linha era por conta do governo), instalou Unix, configurou e criou um 
FTP site. Nesse voce^ tem a liberdade de criar diretorios e assessar via FSP
tambem. Funciona tão bem que um colecionador de  jogos (Hans Guilt)  colocou 
nesse  site (ftp://riaph.irkutsk.su) toda a sua coleção de jogos compactados
(são mais de  4 Mb!), com  vários  daqueles  joguinhos  que fizeram  a nossa
alegria: Knightmare,  Elevator  Action, Lode  Runner, a saga  Zanac, Cabbage 
Patch Kids, etc. Sem contar algumas raridades, como o De Grotten  Van Oberon
(um jogo alemão  onde  você pilota  um disco  voador  dentro de  cavernas) e 
outros que eu nunca vi.


OS EMULADORES

  Nesse meio tempo (final de 1994) surgiu  o primeiro emulador  de MSX  para
PC. Era originário da  Holanda e  emulava um  MSX 1, era recheado  de bugs e
defeitos. Basta dizer  que todos os  aplicativos e  jogos que  rodavam nesse
emulador ficavam insuportavelmente  lentos. O Elite ficava  tão  lento que a 
gente  saía  para  beber  água e quando  voltava, ainda  faltava  terminar a
animação... Isso no emulador de MSX 1. Mas alguém já disse que a necessidade 
é mãe da invenção e irmã do improviso: Um russo que está  estudando  nos EUA 
Marat Fayzullin) começou  a fazer, em C, um  emulador para MSX 1. Esse era o 
free MSX, ou o fMSX, como é mais  conhecido. O mais  interessante é  que ele
foi feito para ser  totalmente  freeware (ao contrário  do primeiro  que era
vendido), é o mais completo de todos e o mais portável. Há versões  do  fMSX
para MS-DOS, Windows, Linux, Mac/OS, Amiga  DOS, Sun  Solaris,  OSF/1,  BSD, 
etc. algumas rotinas foram desenvolvidas por usuários holandeses e japoneses
Essa é usando  a máxima  da Internet: "Várias  pessoas  conectadas, ajudando 
umas  às  outras, criando  uma comunidade  eletrônica  e relembrando  aquele 
antigo sentimento há muito esquecido na sociedade  moderna: solidariedade.". 
Hoje o fMSX está na versao 1.5, e emula um MSX 2+ com acerto  muito bom. Não
é perfeito, mas está melhorando... Segundo minhas fontes, mesmo  emulando em
um Pentium  120 , ele  perde em  velocidade para  o bom  e velho MSX 2+. Não
tenho  nada  contra  os  emuladores. Pelo  contrário, acho  eles  úteis para
estudar a arquitetura  da máquina e  para fazer  testes. Mas  infelizmente a
lista internacional foi acometida por uma "síndrome do  emulador". Falava-se 
mais  no  emulador do que no  próprio MSX! Droga... Cansei  de  mandar mails
reclamando por isso, e hoje em dia  isso melhorou muito. De  vez  em  quando
surge  alguem  perguntando  como  gerar  ROM-files  para  o fMSX, e  o Marat
calmamente explica. Mas o MSX voltou à crista da onda.
  Mais recentemente aquela dupla de usuários  holandeses que  fizeram aquele
primeiro  emulador  lançaram uma  nova versão  do  seu  emulador, desta  vez
emulando o MSX 2. Mas já era tarde, o fMSX havia dominado o mercado.


O RECONHECIMENTO

  Logo  que  comecei a fazer a lista, não  era a  minha  intenção espalhá-la
pelos quatro cantos da terra. A minha intenção  era apenas  fazer um arquivo
para eu  consultar  de vez em  quando. Mas não  imaginei como o  alcance foi 
grande! Gente, nunca  sai do  Brasil mas sou  conhecido nos  meios MSXzeiros
europeus e de vez em quando  recebo um mail  dando parabéns! Isso  me  deixa
muito feliz. A lista foi publicada (na integra) em  algumas  revistas de MSX
no exterior, como a ChipChat (inglesa) e a MCCM (holandesa), inclusive com o
meu nome.
  Mas aqui no Brasil tive um reconhecimento quase imerecido. Vou contar-lhes
a história. Se você já leu o Caderno  de  Informatica  do jornal ' O Globo',
deve ter lido a  coluna  do CAT - Carlos  Alberto Teixeira, um  dos  grandes
gurus do pessoal aqui do Rio. Seus artigos são excelentes, com  muitas dicas
e uma linguagem leve e divertidíssima. Pois então, tomei coragem e mandei um 
mail para ele falando da lista que eu  tinha feito, e  conversando um pouco.
Ele foi muito simpático, mas  me disse  que seria  difícil falar da lista na
coluna dele, mas veria o que poderia fazer. E qual não  foi a minha surpresa 
quando numa segunda-feira de junho de 1994 eu abri  o jornal e  li na coluna
do CAT um pequeno texto  falando sobre mim, a  lista e tudo  que já tinhamos 
feito em prol do MSX até aquele  dia. Nossa, fiquei famoso! Meu  pai, então,
todo orgulhoso, recortou  e colou o  artigo perto da  sua mesa  de trabalho,
para que todos pudessem ver o que o filho fazia! E muitos me deram parabéns,
e tive os meus quinze minutos de fama. Agradeci  ao CAT, e ele  disse que se 
precisasse de mais alguma coisa, era só chamar. São pessoas assim  que fazem 
a gente acreditar no ser humano.


O NEWSGROUPS E A WWW

  Foi tentada uma conexão entre a MSX Net e a lista de discussão, feita pelo
Pierre Gielen, via o seu BBS, mas sem sucesso. Foi nessa época que o pessoal
começou  a discutir  sobre abrir um  newsgroup na  Usenet. Certo, alguém  já
tinha aberto um newsgroup alternativo, o alt.sys.msx. Como é  alternativo, é
lido por todos os News Servers do mundo. Nos queríamos um  grupo oficial. Só
que a burocracia era muita (quem disse que a Internet era  desorganizada?) e 
dava muito trabalho: Era preciso um RFD (Request For Discussion - Um convite
a discussão, para ver se abrir o newsgroup é válido), depois, se aprovado, é 
feito um CFV (Calling For Vote - Chamada a Votação), onde  criam-se  e-mails
especiais para as pessoas votarem. A  contagem é  automatica, e para abrir o
grupo é necessario mais de 100 votos  a favor, e  mais  de 2/3 do  total ser 
'SIM'. Afinal, mediante essa trabalheira toda, o Eric Boon  voluntariou-se a
fazer essa tarefa hérculea, batalhou e  graças ao  esforço dele, na  votação
tivemos  152  votos à  favor,  algumas  abstenções  e  menos  de  20 contra.
Preenchemos todos os pré-requisitos e fomos aprovados. Aguardamos  um tempo, 
e  em  julho  de  1995, o  nosso  newsgroup  oficial  já  estava disponível.
Infelizmente tambem passou uma época acometido da síndrome do emulador.
  E como não poderia deixar de  ser, a WWW. A  primeira  homepage especifica
sobre  MSX  surgiu  pelas  mãos  de Wiebe  Weikamp  (fantástica), e  com  um 
background bem-humorado (uma copia do adesivo  da Intel - Intel  inside - só
trocando  palavras - para  "Zilog inside"). De  lá para cá, surgiram  várias
homepages, só com assunto técnico, homepages  de grupos  de  usuarios (FONY, 
ABYSS,  etc.), homepages  com  muita  informação, etc. A  primeira  homepage 
nacional  foi  criada  pelo  Aleck  Zander em  1995 (MSX BRoadcast). Existem 
muitas homepages específicas para o MSX hoje em dia.
				

A LISTA BRASILEIRA

  No inicio de 1995, resolvi que era necessário abrir uma lista de discussão
brasileira, para  que  nós, MSXzeiros  brasileiros  pudessemos falar sobre o
que nos interessava especificamente. Portanto, em janeiro de  1995, criei na
Esquina das Listas (na Unicamp) a MSXBR-L, uma lista de discussão para o MSX
no Brasil. Foi através  da lista  que passei a  conhecer  gente boa, como  o  
André Delavy, poder falar mais com gente como o Aleck Zander, e  trocar  mil
idéias.
  No final de 1995,  com  as  costumeiras quedas  do  servidor da Esquina, o
Aleck sugeriu-me  que  montassemos  uma lista em  um outro  servidor. "Mas a
Esquina  é  um  servidor  democrático. Tem até  lista de  discussão  sobre o
Criciúma e quatro listas de teste! Onde alguém vai aceitar a nossa lista?" -
argumentei. Ele então começou a mexer os pauzinhos e falar com seus contatos
na UNESP para colocar a nossa lista em um listserv  que  seria  instalado no 
laboratório onde ele trabalha. Infelizmente perdi a minha conta, a já  quase
imortalizada (se não  fosse o meu  antigo gerente) "pinheiro@labma.ufrj.br".
Recebi solicitações de cópias da lista até da Eslováquia! Isso mostra como a 
lista se alastrou e eu fiquei conhecido.
  Mal tive tempo de me despedir e descadastrar-me das mais  de 15 listas que
assinava (só na esquina, eram mais  de 10), e perdi  meu e-mail. Depois  que
foi feita a  troca do  sistema  RENPAC na UFRJ, se  livrando do  velho VAX e
colocando   uma  RISC/6000  da  IBM  no  lugar,  conversei  com   um   amigo
(ex-MSXzeiro) e ele me cedeu o uso da conta, a  saber: malheiro@acd.ufrj.br.
Portanto, apenas eu lia mail nesse endereco. Funciona como se fosse  meu, só
que as mensagens  iam  em  nome  de 'Rogerio  Malheiros  dos Santos'. Quando
voltei para o universo interneteiro, descobri que o Aleck finalmente botou o
listserv  para  funcionar e  me passou o  novo  endereco, num  servidor  'de
gente': listserv@dcce.ibilce.unesp.br. E estamos  agora  na  lista. O
pessoal agora tem feito um barulho muito bom, discutido 
bastante e tido muitas idéias. Isso é o que eu procuro  desde que  comecei a 
acessar a Internet: usuários agindo em  conjunto, fazendo um 'brainstorming' 
e propondo-se a  desenvolver software  junto. Só isso já faz o  meu  esforço
valer a pena. Claro, temos o contato com o pessoal do exterior (e sugiro que
usemos desse  contato), mas  fazer um  trabalho com  holandeses, japoneses e
finlandeses em conjunto fica bem complicado, não?


O FIM... OU O INÍCIO?

 Olhando para trás, e vendo o que conseguimos, me deixa muito feliz. Hoje em
dia temos 6 (ou 7?) FTP sites, 3 listas de  discussão (tem a  lista japonesa 
também), 2 newsgroups, dezenas de homepages, e tudo isso  começou com aquele 
bate-papo com o Max, há  quase três anos  atrás. Mas o  melhor de tudo é que 
isso ajudou a formar nos MSXzeiros uma consciência de "arregaçar as mangas e 
fazer, não ficar esperando pelos  outros fazerem". Se  não  fosse  isso, não 
teriamos nada disso feito. 
  Falando em termos de Brasil, ainda precisamos  fazer muito: Um  canal fixo
no IRC (eu sugiro o irc.kanopus.com.br), um FTP site  só nosso, etc. Mas  só 
em ver o interesse do pessoal em fazer coisas  novas, como  a  conversão  do
Unix (Minix - quem  sabe podemos  depois partir  para o Linux?), MSXs  novos
(baseados no Z380), um 'trumpet' TCP/IP, software para mandar  para Tilburg, 
etc. já me deixa muito feliz. Valeu a pena. E tem valido.
  E que o mercado de 16 e 32 bits tome  cuidado!  O MSX  está aí, renascendo
das cinzas, qual Fenix, em novos  formatos, novas  versões,  mais  usuários, 
mais gente. Tem sido  muito bom  chegar os  10 anos  de MSX  escrevendo esse
texto e vendo que o sonho não acabou.
  
   T++ galera!

    MSX NOW!

   Ricardo Jurczyk Pinheiro

   The MSX Big Rider

 


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